quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Curiosidade

Você sabia que...

Gonçalves Dias escreveu um dicionário da Língua Tupi? Compre aqui.

Sobre O Túmulo De Um Menino

25 de outubro de 1848.


O invólucro de um anjo aqui descansa,
Alma do céu nascida entre amargores,
Como flor entre espinhos! — tu, que passas,
Não perguntes quem foi. — Nuvem risonha
Que um instante correu no mar da vida;
Romper da aurora que não teve ocaso,
Realidade no céu, na terra um sonho!
Fresca rosa nas ondas da existência,
Levada à plaga eterna do infinito,
Como of’renda de amor ao Deus que o rege;
Não perguntes quem foi, não chores: passa.

Chico Buarque e Tom Jobim - Sabiá


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A historia de Joana

"Era meu pai, o homem que morreu afogado no naufrágio do navio que o trazia de volta ao Brasil. Era dele o corpo que ficou para sempre no fundo do mar."

 -Palavras da filha dele. (O Poeta do Exílio - LAJOLO, Marisa)

Curiosidades

Em 1851, Gonçalves Dias publicou os Últimos Cantos, encerrando a fase mais importante de sua poesia.

Curiosidades

Gonçalves Dias, poeta, professor, crítico de história, etnólogo. Nasceu em Caxias - MA, em 10 de agosto de 1823. Faleceu em um naufrágio, em 3 de novembro de 1864 .

Delírio

"[...]
Visão, fatal visão, por que derramas
Sobre o meu rosto pálido
A luz de um longo olhar, que amor exprime
E pede compaixão?
Por que teu coração exala uns fundos,
Magoados suspiros,
Que eu não escuto, mas que vejo e sinto
Nos teus lábios morrer?
Por que esse gesto e mórbida postura
De macerado espírito,
Que vive entre aflições, que já nem sabe
Desfrutar um prazer?
[...]"

Curiosidade

Você sabia que...

Existem trechos do poema "A Canção do Exílio" no hino nacional brasileiro? 

"[...] 
Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." 

[...]"

As partes em negrito estão presentes no poema de Dias. 

Veja aqui o poema. 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Curiosidade


Quando o poeta estava fazendo a viagem de Caxias para São Luís (1837), com o objetivo de finalmente ir estudar em Portugal, seu pai adoeceu (tuberculose) e morreu. O poeta, ainda novo (14 anos), escreveu o poema "Saudades"
I  z    . A    j N  ;      ,L      D j   ,    D    ! Já  á    - ,Q        j!
Da esquerda para a direita: Gonçalves Dias, Manuel de Araújo e Gonçalves Magalhães (1858).

Curiosidade

Você sabia que...
Dias escreveu e destruiu o romance "Agapito Goiaba"?

Recordação


"Quando em meu peito as aflições rebentam
Eivadas de sofrer acerbo e duro;
Quando a desgraça o coração me arrocha
Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada, .
Bem que afeita a sofrer, sequer não pode
Clamar: Senhor piedade; - e que os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem
Do mar d'angústias que meu peito oprime:
Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces
Palavras tuas, sôfregos, atentos
Sorvendo meus ouvidos, - nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastara ainda
Porque de os ver me saciasse!... O pranto
Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. - Em tal pensando
De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre."

A Concha e a Virgem

"Linda concha que passava, 
Boiando por sobre o mar, 
Junto a uma rocha, onde estava 
Triste donzela a pensar,
Perguntou-lhe: — "Virgem bela, 
Que fazes no teu cismar?" 
— "E tu", pergunta a donzela, 
"Que fazes no teu vagar?"
Responde a concha: — "Formada 
Por estas águas do mar, 
Sou pelas águas levada, 
Nem sei onde vou parar!"
Responde a virgem sentida, 
Que estava triste a pensar: 
— "Eu também vago na vida, 
Como tu vagas no mar!
"Vais duma a outra das vagas, 
Eu dum a outro cismar; 
Tu indolente divagas, 
Eu sofro triste a cantar.
"Vais onde te leva a sorte, 
Eu, onde me leva Deus: 
Buscas a vida, — eu a morte; 
Buscas a terra, — eu os céus!"

O Canto do Guerreiro

I


Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.

II


Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?



III


Quem guia nos ares
A frecha emplumada,
Ferindo uma presa,
Com tanta certeza,
Na altura arrojada
onde eu a mandar?
— Guerreiros, ouvi-me,
— Ouvi meu cantar.



IV


Quem tantos imigos
Em guerras preou?
Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me:
— Quem há, como eu sou?



V


Na caça ou na lide,
Quem há que me afronte?!
A onça raivosa
Meus passos conhece,
O imigo estremece,
E a ave medrosa
Se esconde no céu.
— Quem há mais valente,
— Mais destro que eu?



VI


Se as matas estrujo
Co’os sons do Boré,
Mil arcos se encurvam,
Mil setas lá voam,
Mil gritos reboam,
Mil homens de pé
Eis surgem, respondem
Aos sons do Boré!
— Quem é mais valente,
— Mais forte quem é?



VII


Lá vão pelas matas;
Não fazem ruído:
O vento gemendo
E as matas tremendo
E o triste carpido
Duma ave a cantar,
São eles — guerreiros,
Que faço avançar.



VIII
 
E o Piaga se ruge
No seu Maracá,
A morte lá paira
Nos ares frechados,
Os campos juncados
De mortos são já:
Mil homens viveram,
Mil homens são lá.

 
IX


E então se de novo
Eu toco o Boré;
Qual fonte que salta
De rocha empinada,
Que vai marulhosa,
Fremente e queixosa,
Que a raiva apagada
De todo não é,
Tal eles se escoam
Aos sons do Boré.
— Guerreiros, dizei-me,
— Tão forte quem é?

Gonçalves Dias

O Orgulhoso

Eu o vi! - tremendo era no gesto,
Terrível seu olhar;
E o cenho carregado pretendia
O globo dominar.
Tremendo era na voz, quando no peito
Fervia-lhe o rancor!
E aos demais homens, como um cedro à relva,
Se cria sup’rior.
E o pobre agricultor, junto a seus filhos,
Dentro do humilde lar,
Quisera, antes que os dele, ver um Tigre
Os olhos fuzilar:
Que a um filho seu talvez quisera o nobre
Para um Executor;
Ou para o leito infesto alguma filha
Do triste agricultor.
Quem ousaria resistir-lhe? - Apenas
Algum pobre ancião
Já sobre o seu sepulcro, desejando
A morte e a salvação.
Alguns dias apenas decorreram;
E eis que ele se sumiu!
E a laje dos sepulcros fria e muda
Sobre ele já caiu.
E o bárbaro tropel dos que o serviam
Exulta com seu fim!
E a turba aplaude; e ninguém chora a morte
De homem tão ruim.

Olhos Verdes

Eles verdes são:
E têm por usança
Na cor esperança
E nas obras não.
Camões, Rimas.
São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança
Uns olhos por que morri;
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte.
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São uns olhos verdes, verdes,
Que pode também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do padro,
Mas verdes da cor do mar.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vós, ó meus amigos
Se vos perguntam por mi,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos da cor da esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vós: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar;
Eram verdes sem esp’rança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que, ai de mi!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
 
Coimbra - Julho 1843.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Eu Nasci Além dos Mares

"Eu nasci além dos mares:


Os meus lares.
Meus amores ficaram lá!
- Onde canta nos retiros,
Seus suspiros,
Suspiros o sabiá!

Oh! Que céu, que terra aquela,
Rica e bela.
Como o céu de claro anil!
Que seiva, que luz, que galas,
Não exalas,
Naõ exalas, meu Brasil!

Oh! Que saudades tamanhas
Das montanhas,
Daqueles campos natais!
Que se mira,
Que se mira nos cristais!
Não amo a terra do exílio
Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
E as palmeiras
E as palmeiras tão gentis!

Como a ave dos palmares
Pelos ares
Fugindo do caçador
Eu vivo longe do ninho;
Sem carinho
Sem carinho e sem amor
Debalde eu olho e procuro...
Tudo escuro
Só vejo em roda de mim!
Falta a luz do lar paterno
Doce e terno,
Doce eterno para mim.

Distante do solo amado
-Desterrado-
A vida não é feliz.
Quem me dera,
Quem me dera o meu país!"

(Casimiro de Abreu - Releitura da "Canção do Exílio")
"[...]
Eu sei que morreste, filha!
Sei que a dor de te perder
Enquanto eu for vivo, nunca,
Nunca se há de esvaecer!

Mas qual teu jazigo? E onde
Jazem teus restos mortais?...
Esse lugar que te esconde,
Não vi: -Não verei jamais.
[...]"

Fonte: O Poeta do Exílio - LAJOLO, Marisa (Poema escrito em Manaus, em 1º de maio de 1861)